top of page
  • Foto do escritorRafaela Maciel

Dom Pedro pode ter sido quem gritou, mas foi Leopoldina quem assinou: a Independência do Brasil

No dia da Independência do Brasil, que tal conhecer melhor a importância da Imperatriz Leopoldina para a existência desta data?


Retrato de Leopoldina por Josef Kreutzinger.

Comemora-se, em 7 de setembro, a Independência do Brasil. E muito se fala do homem que grita, às margens do Rio Ipiranga, “Independência ou morte”, mas a mente por trás da separação de Portugal e Brasil foi sua esposa, Leopoldina.


Maria Carolina Josefa Leopoldina Fernanda Francisca de Habsburgo-Lorena foi a primeira esposa de Dom Pedro I, casando-se aos 17 anos com o príncipe herdeiro português. Dona Leopoldina foi a mente que arquitetou a independência do Brasil, sendo também a responsável por estudos sobre a botânica e mineralogia do país e inúmeras causas de caridade. Seu nome é associado à junção do velho e novo mundo em um.


Infância


Dona Leopoldina nasceu em Viena, na Áustria, em uma família grande, real e antiga. Ela mesma possuía 11 irmãos e sua educação foi rigorosa.


Arquiduquesa da Áustria, Dona Leopoldina nasceu em um período conturbado para as grandes casas da Europa: Napoleão Bonaparte havia tomado o poder na França em 1799 e obrigado seu pai, Francisco II, a renunciar ao título de "Imperador do Sacro Império Romano-Germânico", passando a ser apenas "Imperador da Áustria". Daí veio o título "filha dos Cezares".


Aos 10 anos, a futura imperatriz sofreu a perda da mãe.  Seu pai, no entanto, acabou se casando novamente um ano depois, com Maria Luiza, da qual a arquiduquesa se tornou muito próxima.


Durante sua juventude, Leopoldina foi ensinada a reinar desde pequena, sendo educada em assuntos do Estado, botânica, línguas,  filosofia, artes e muito mais. Dona Leopoldina chegou ao Brasil já sabendo falar português e outras cinco línguas.


Chegada ao Brasil e casamento


Retrato de Dom Pedro e Leopoldina, por Arnaud Julien Pallière.

A viagem da Áustria para o Brasil era longa e perigosa. Mesmo assim, a princesa tinha um dever a cumprir com sua família: casar-se, ter filhos e manter a monarquia viva. Ela já havia se casado por procuração com Dom Pedro I, no entanto, um novo casamento entre os dois foi celebrado, com muita pompa.


Em suas cartas, a princesa falava da beleza paradisíaca do Brasil, sobre como tudo era vivo e bonito.


Em primeiro momento seu casamento foi feliz. Leopoldina estava apaixonada por seu marido e acreditava estar realizada.


Porém, a história de amor entre os dois se tornou caótica: Dom Pedro manteve inúmeras amantes, entre elas a mais famosa, Domitila de Castro, cujos filhos com o príncipe chegaram a ser reconhecidos.


Na política, os problemas surgiam sem parar: Dom João precisou retornar para Portugal em 1826 graças à Revolução Liberal. Refém das cortes portuguesas, deixou seu filho e herdeiro Dom Pedro I, então com 22 anos, no Brasil como regente.


Com sua partida, os cofres do Brasil ficaram vazios, e o casal monarca se viu sufocado em dívidas.


A intenção das cortes portuguesas era recolonizar o país, que havia sido elevado de colônia para o status de Reino Unido a Portugal e Algarves.


Adoção do Brasil como sua própria pátria como combustível para a Independência


Em 9 de janeiro é celebrado o "Dia do Fico", expressando a decisão de Dom Pedro I de ficar no Brasil, já que poderia nomear seus próprios ministros.


A decisão de Dom Pedro demorou a chegar em Portugal e, nesse meio tempo, seus auxiliares — entre os quais estavam José Bonifácio e Clemente Pereira — determinaram a ideia de declarar a Independência.


À época, Leopoldina era chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil, com poderes legais para governar o país durante a ausência do marido, que estava em São Paulo para acalmar os ânimos políticos.


Durante seu governo, Leopoldina se tornou amiga íntima de José Bonifácio, com quem compartilhava os ideais políticos, e foi ele quem lhe aconselhou a usufruir de seu cargo como chefe interina do governo a agir em prol da Independência.


A futura imperatriz temia que uma revolução destruísse a monarquia no Brasil — como aconteceu na Europa — e se preocupava com seu marido, que sempre obedecia seu pai e as cortes portuguesas.


Dona Leopoldina sabia o que devia ser feito: declarar a independência do Brasil. A situação era urgente e ela sabia que era questão de tempo para seu marido ceder para as cortes e retornar a Portugal.


“Sessão do Conselho de Estado”, de Georgina de Albuquerque.

Com medo de perder o trono brasileiro para sempre, Leopoldina assinou a separação oficial do Brasil de Portugal, tornando o país independente no dia 2 de setembro, e escreveu uma carta ao marido, pedindo que ele compreendesse seus motivos e os aceitasse. A carta continha os dizeres: "O Brasil o quer como monarca. Com vosso apoio ou sem vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece".



Dom Pedro I leu essa carta no dia 7 de setembro de 1822, em uma situação bem menos glamourosa do que é retratado nos quadros — quando ele supostamente gritou o famoso "Independência ou morte" —. Dom Pedro I apenas afirmou a separação que já estava assinada por sua esposa.


“Independência ou Morte”, de Pedro Américo.

 

Morte e boatos


A imperatriz Maria Leopoldina foi conhecida por ser uma monarca inteligente e espirituosa. Durante a década que foi casada com Dom Pedro, ela concebeu 7 filhos e perdeu 2 meninos, deixando como herdeiro masculino Dom Pedro II.

 

Maria Leopoldina passou inúmeras humilhações públicas por conta dos casos extraconjugais de seu marido. Essa humilhação, somada à sucessão de partos, destruiu a saúde da monarca.

 

A imperatriz precisou suportar o reconhecimento público da filha de Dom Pedro com Domitila, a nomeação da amante como dama de companhia e até mesmo a presença dela em uma viagem para a Bahia em 1826 junto ao casal imperial.


Dona Leopoldina passou a sofrer de cólicas, vômitos e febres frequentes em seu último ano de vida. Seu estado cada vez mais frágil e depressivo preocupava seus súditos, que a amavam: sua popularidade chegava a ser maior que a do Imperador.


Maria chegou a escrever uma carta para sua irmã Maria Luiza, em que afirmava estar no final de sua vida, e que este fim se daria por um atentado. Reclamava da falta de amor de Pedro e das humilhações que passava com a constante presença de Domitila de Castro, que foi feita Marquesa de Santos por Dom Pedro.


Essa carta serviu para aumentar o boato de uma possível surra que o Imperador teria dado na Impeeatriz. Na ocasião, ela teria se recusado a entrar na sala do trono com a Marquesa de Santos, o que enfureceu o marido, e este a acertou com puxões e chutes. É até especulado que essa surra teria sido a causa de sua morte. No entanto esse boato se perdeu na história, já que os únicos presentes na cena seriam Dom Pedro, Dona Leopoldina e Domitila. Posteriormente, a causa da morte de Leopoldina foi determinada como um aborto sofrido em decorrência da evolução grave de uma doença, sem o apontamento de qualquer fratura ou grave lesão que indicasse as supostas agressões por parte de Dom Pedro I.

 

O boato de que estavam matando a Imperatriz cresceu entre o povo. Histórias de que Domitila estava a envenenando com a ajuda de um médico, que Dom Pedro fazia da esposa sua prisioneira na Quinta da Boa Vista e de que ela não tinha acesso a alimentos e comida enfureceram a população. O solar da Marquesa foi depredado, e a popularidade da amante do Imperador, que já não era alta, praticamente se extinguiu. Dom Pedro foi aconselhado, mais uma vez, a afastar a amante da corte.

 

No dia 11 de dezembro de 1826, na Quinta da Boa Vista, Maria Leopoldina, a pessoa que arquitetou a independência do Brasil, faleceu após sofrer seu último aborto espontâneo de um feto masculino de 3 meses de idade.


Comoção nacional


Durante toda a doença de Leopoldina, o povo ia às ruas rezar pela saúde de sua Imperatriz. Os jornais estavam recheados de notícias e boletins diários sobre o estado da austríaca.

 

As igrejas se enchiam de pessoas durante todas as missas, e o povo realizava procissões diariamente. A notícia da morte da Imperatriz chocou e entristeceu a população. Sua morte, tão jovem, antes dos 30 anos, manchou a reputação de Dom Pedro I para a Europa, que passou a vê-lo como a causa da depressão da jovem imperatriz, o que dificultou seus arranjos para um novo casamento.


Hoje, seus restos mortais descansam no Monumento do Ipiranga, na cidade de São Paulo.


Monumento do Ipiranga

Legado


Pouco sobre a grande Imperatriz foi ensinado ou citado ao longo da história brasileira. Sobre Maria Leopoldina, sabemos que foi mãe de 7 crianças, das quais Dom Pedro II do Brasil e Maria de Portugal se destacam. Foi a primeira esposa de Dom Pedro I e a primeira Imperatriz do Brasil.


Sofreu nas mãos da amante do marido, Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, e morreu jovem demais.


Não se costuma citar sua mente brilhante, sua perspicaz política e seu caráter voltado para causas de caridade.

 

No entanto, novas obras e produções têm buscado mudar essa percepção sobre a primeira Imperatriz do Brasil.

 

Em 1996, a Imperatriz foi enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense e, em 2018, também foi homenageada pela escola de samba Tom Maior.

 

Em 2017, a atriz Letícia Colin interpretou Dona Leopoldina na novela 'Novo Mundo', produzida pela Rede Globo. O folhetim, escrito por Thereza Falcão e Alessandro Marson, deu uma nova luz sobre a princesa austríaca, mostrando toda a sua trajetória e importância histórica na independência do Brasil.


A atriz Letícia Colin como Leopoldina em ‘Novo Mundo’. | Créditos de imagem: Rede Globo


 

 

 

98 visualizações0 comentário

Comentarios

No se pudieron cargar los comentarios
Parece que hubo un problema técnico. Intenta volver a conectarte o actualiza la página.
bottom of page