Quando o pai passa a entender que seu papel vai além do que ser apenas o provedor.
A paternidade é um papel que vem sendo cada vez mais reconhecido como o lugar de cuidado primário que é (ou deveria ser), tal como a maternidade. Os pais, na figura paterna, vêm cada vez mais ocupando um lugar de cuidador e fortalecendo os vínculos de apego com seus filhos desde o nascimento. Nossa cultura foi se modificando com o tempo, e um lugar que era exclusivamente feminino, com a maternidade, começou a transformar-se no lugar parental que hoje temos com a formação de pais e mães.
Ainda assim, é importante considerarmos que a cultura carrega ainda consigo traços da sociedade patriarcal, nos quais pais são colocados no lugar exclusivo de provedor do lar, sem necessariamente a eles serem imputados o papel de contato e cuidados com seus filhos. É um papel que ainda é majoritariamente atribuído às mães, mesmo que muito tenha se modificado ao longo da história.
Pensando nisso, o objetivo desse artigo é o de promover uma reflexão sobre a formação dos vínculos afetivos na paternidade levando em conta esse movimento histórico e as mudanças que o papel masculino veio adquirindo no desenvolvimento com seus filhos.
Primeiramente, há de se considerar que a figura de pai é, tal como a mãe, figura de cuidado primário e que, se pensarmos em distinção dos dois papeis, temos unicamente a questão biológica que diferencia os dois pelo fato da mulher gestar e amamentar seus bebês. No entanto, como historicamente o homem sempre foi visto como provedor do lar e a mulher como responsável pelos cuidados da casa e dos filhos, recai na maternidade o dever dos cuidados, ainda que essa mulher também tenha se modificado ao longo dos anos, tornando-se também provedora do lar.
Desta forma, gostaria de refletir com você, leitor, sobre os impactos dos vínculos paternos estabelecidos com as crianças e como isso poderá repercutir na própria paternidade ao longo da vida.
Para fundamentar tal discussão, gostaria de trazer alguns pontos da Teoria do Apego, desenvolvida por John Bowlby. Nela, é defendida a ideia de que o apego é algo biológico, necessário à sobrevivência e inato no ser humano e, para que possamos ter um bom desenvolvimento social e emocional, é preciso que tenhamos primeiramente um relacionamento seguro com um cuidador principal desde o nosso nascimento. É um vínculo que se forma com este cuidador principal e trará a sensação de cuidado e segurança à criança na infância. A depender de como esses vínculos são estabelecidos com o cuidador primário, iremos desenvolvendo estilos de apego que poderão interferir na forma como nos relacionamos na vida adulta e, quanto mais seguro forem esses vínculos, mais seguro conseguirei me desenvolver em minhas próprias relações. Em contrapartida, quanto mais inseguros tais vínculos, mais inseguro estarei nas relações futuras.
Posto isto, faço o seguinte questionamento a você leitor: qual o papel da paternidade nessa formação de vínculos afetivos?
Sendo o homem frequentemente mais instrumental e racional do que a mulher, podemos pensar que vínculos seguros com os pais, poderão proporcionar base segura e porto seguro no que tange à questão de experimentar a vida. Eles poderão servir sustentação, alicerce e sempre um lugar de retorno. Quando tudo corre bem, a função paterna frequentemente proporciona essa possibilidade de experimentação ao mundo com a segurança da presença e do cuidado.
No entanto, a depender de como foram meus próprios cuidados e vínculos paternais na infância, há uma tendência à reprodução destes com os filhos que virão e, pensando em relações paternas ausentes, tóxicas ou abusivas, possivelmente teremos no desenvolvimento daquele que é cuidado, a presença de inseguranças, ambivalências e evitações no que tange à experimentação do mundo e das relações.
É claro que cada um dá aquilo que tem em termos de cuidados e vínculos, mas precisamos considerar a relevância da presença paterna no desenvolvimento emocional e psíquico das crianças, pois, assim como as mães, os pais tem esse lugar primário no sistema de cuidados.
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