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  • Foto do escritorHellica Miranda e Luís Gustavo Camargo

Representatividade: a importância do termo nos tempos da evolução

Historicamente silenciadas, algumas pessoas enfrentam maiores dificuldades para se identificar com quem veem em evidência.



Quando falamos da sociedade como um todo, a representatividade está presente em todas as camadas e pessoas que compõem as diferentes classes sociais.


Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, “representatividade” significa:


Qualidade reconhecida a uma pessoa, a uma entidade ou a um organismo, mandatado oficialmente por um grupo de pessoas para defender ou representar os seus interesses ou exprimir-se em seu nome


Quando pensamos neste tema, diversos conceitos surgem na nossa cabeça, como, por exemplo, os movimento antirracista, feminista, LGBTQIA+, a defesa dos direitos dos indígenas, a luta pela acessibilidade de pessoas com deficiência, entre outros. Embora cada luta seja diferente e tenha seus princípios, todas têm em comum um objetivo, a defesa das minorias.


A Constituição Federal do Brasil de 1988 estabelece, no parágrafo único do artigo primeiro, que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos dessa constituição”.


Dessa forma, manifestações políticas democráticas sempre devem ser observadas como expressões de vontades de parcelas da sociedade, que lutam pelos seus direitos e igualdade.


No Brasil, no âmbito político, informações divulgadas pelo Correio Braziliense afirmam que das 513 vagas da Câmara dos Deputados, apenas 27 serão ocupadas por pessoas pretas em 2022. 


Em entrevista para o mesmo site, Thales Vieira, coordenador executivo do Observatório da Branquitude, afirma que ainda há outras questões neste Congresso eleito que poderão dificultar a formulação de políticas públicas para este grupo, que são pretos e pardos que se elegeram com pautas contrárias ao movimento negro. "Existem alguns que não têm compromisso com a população negra, são eleitos a partir de uma agenda contrária. Temos vários exemplos famosos disso. Ainda temos um Congresso mais conservador, com muitas pautas contrárias ao movimento negro", diz.


Representatividade feminina na história do Brasil



O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná destacou o pioneirismo e fatos históricos da representatividade feminina na política brasileira. Se destacam, entre eles:


1927 – Celina Guimarães Viana foi a primeira mulher a se registrar como eleitora no Brasil, com registro aprovado para votar em uma eleição municipal de Mossoró (RN).

1928 – Alzira Soriano foi a primeira mulher a virar prefeita da cidade de Lages;

1932 – Rompimento da restrição de gênero nas eleições brasileiras, com a aprovação do Código Eleitoral;

1934 – A Constituição de 1934 consagra pela primeira vez o princípio da igualdade entre os sexos e proíbe as diferenças salariais por motivo de gênero;

1934 – Carlota Pereira de Queiroz foi a primeira deputada federal eleita no Brasil;

1970 – Marca a inserção das mulheres no mercado e a liberdade política no país para o fortalecimento das defesas e dos direitos das mulheres;

1977 – Criação de cotas eleitorais de gênero;

2010 – Dilma Rousseff foi a primeira presidenta eleita do Brasil.


Créditos de imagem: Site Dicas de Mulher

Em entrevista à De Mulher Para o Mundo, diversas mulheres, em contextos diferentes, nos contaram como se sentem representadas na sociedade e porque a representatividade é tão importante.


Para mim, representatividade é conseguir se ver em pessoas que estão em posições altas hoje em dia e são parecidas com você. Conseguir ver alguém preto/bissexual em grandes projetos realizando grandes feitos me faz pensar "poxa, se ele pode fazer isso, eu posso também" sabe? Por ser tanto bissexual quanto preta, a gente sente que o mundo talvez não reserve muitas coisas para a gente, mas ver pessoas como eu, me dá forças pra correr atrás dos meus sonhos e do que eu realmente quero fazer. A representatividade é importante justamente por isso, porque te faz acreditar que você é capaz, que você pode, que é possível e que é alcançável, tipo quando eu vi o trailer da nova versão da Pequena Sereia, eu NUNCA me imaginaria como uma princesa da Disney antes de assistir personagens como Tiana de ‘Princesa e o Sapo’ e da nova Ariel da Halle Bailey. É mágico o quanto que se sentir representado pode mudar a percepção de mundo de alguém”, diz Joanna Santos, mulher cis, bissexual, negra e moradora de Aracajú no estado de Sergipe.


Créditos de imagem: Dicas de Mulher

Para Bruna Duarte, mulher cis e lésbica, a representatividade é “basicamente um povo que eu olho e me sinto representada. Uma novela com alguém que me representa, um filme, uma história, uma página de internet que fala sobre algo que me representa; Eu me sinto representada por todos e qualquer um da comunidade LGBTQIA+, que são incluídos na sociedade de forma “normal” por algum desses que citei. Digo normal porque infelizmente ainda existe muito preconceito por aí, o que faz parecer pra muitos que um casal homossexual não sejam normais. Não vejo muitas representações de casais lésbicos na mídia”.


Representatividade LGBTQIA+ no Brasil



A busca da comunidade LGBTQIA+ por visibilidade e respeito é uma luta constante e antiga, mas foi em 28 de junho de 1969, em Nova York, que uma revolução aconteceu. Foi no Stonewall Inn, um bar frequentado por pessoas LGBTQIA+, após uma abordagem violenta da polícia local contra pessoas da comunidade, vários frequentadores que estavam no local resistiram à abordagem e impediram a ação dos policiais. Com isso, nos dias seguintes a esse episódio, alguns protestos ocorreram nas ruas próximas ao bar e, um ano depois, em memória ao ocorrido, em 28 de junho de 1970, foi realizada uma marcha em busca de direitos LGBTQIA+, que, mais à frente, se tornaria a tão famosa “parada LGBT”.


Direitos foram conquistados pela comunidade, como reconhecimento da união estável homoafetiva como entidade familiar, a autorização da mudança do pronome, a classificação de sexo/gênero por pessoas transgêneros no Registro Civil e a criminalização da LGBTfobia. No entanto, o Brasil ainda registra o maior número de mortes motivadas por LGBTfobia, sendo o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo.


De janeiro a junho de 2022, o Brasil já registrou 135 mortes de pessoas LGBTQIA+, segundo a pesquisa do GGB (Grupo Gay da Bahia). No mesmo período de 2021, foram registradas 168 mortes.


Para a estudante de direito Hillari Onil Nunes, lésbica, a representatividade pode ser simbolizada através de uma bandeira, ou uma frase, ou até mesmo uma pessoa que possua caracteristicas físicas a fim de representar um determinado grupo de minoria social e que esteja em um determinado local, como um espaço público ou até mesmo novelas e filmes. “A representatividade é essencial na sociedade e vai muito além de ser essencial, é um direito de todos como forma de reconhecimento e até mesmo reparações de discriminações históricas como exemplo podemos citar a escravidão e a homofobia. Desta forma eu sendo mulher e lésbica me sinto representada quando me deparo com a bandeira LGBTQI+ em locais públicos”, completa.


Representatividade negra no Brasil


Créditos de imagem: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Pra mim, representatividade é conseguir me enxergar em todos os lugares, saber que posso fazer tudo o que quiser, sem que nenhum preconceito limite minhas vontades.

Por muito tempo, as minorias (mulheres, negros, população LGBTQIA+, pessoas com deficiência) eram deixadas de lado na sociedade, por muitas vezes eram realmente PROIBIDOS de fazer coisas, acessar lugares. Por mais que hoje não existam mais essas leis, muitos ambientes continuam sendo hostis para essas pessoas, então vejo a importância da representatividade pra ajudar essas pessoas a entenderem que elas realmente podem acessar esses lugares. Um grande exemplo são as mulheres, principalmente negras, em cargos de liderança no mercado de trabalho, pessoas trans acessando o ensino superior, visto que antigamente muitos não chegavam nem ao ensino médio.

Me sinto representada quando vejo políticas de inclusão nas empresas com vagas exclusivas para mulheres, mulheres negras e admiro muito a representatividade estética que as gerações atuais têm de valorização da beleza negra”, diz Izabela Rangel, de 24 anos.



Cultura e representatividade


Para quem cresceu nas gerações Y e Z, o “modelo” considerado padrão para muitos fatores da nossa vida cotidiana — real — foi moldado por elementos estadunidenses importados, sobretudo, pelos filmes e seriados, que mostram, por si só, como o “american way of life” pode ser, muitas vezes, uma fraude.


Adolescentes interpretados por adultos, pouca visibilidade a personagens não-brancos — que, quando aparecem, geralmente são estereotipados — e, consequentemente, menores oportunidades a profissionais que não se enquadram nesse padrão estabelecido. 


Ator da série teen ‘Heartstopper’, da Netflix, Joe Locke criticou atores adultos interpretando adolescentes em entrevista à GQ britânica: “Crescemos com os personagens, mas também estamos crescendo enquanto pessoas. As visões de mundo vão mudando e essas mudanças aconteceram rapidamente quando você é adolescente, porque os hormônios e a escola são horríveis. Parte disso é que a maioria dos programas para adolescentes têm atores de 30 anos fazendo personagens de 17. Eles têm corpos de adulto. Adolescentes de 17 não se parecem assim!


Joe Locke | Créditos de imagem: GQ

Os exemplos disso nas telas são antigos e recorrentes. Um play em ‘Riverdale’ ou nos clássicos dos anos 2000 ‘As Patricinhas de Beverly Hills’ e ‘Meninas Malvadas’ já mostra o suficiente.


Mas o fato é que parte da indústria vem tentando, há um bom tempo, passar mensagens diferentes — e mais saudáveis — sobre aparência e comportamento.


Heartstopper



Esse é o caso da própria série protagonizada por Joe Locke. 


A produção, inspirada nos quadrinhos de Alice Oseman, tem foco no desenvolvimento do relacionamento entre Nick Nelson (Kit Connor) e Charlie Spring (Joe Locke), além dos conflitos emocionais de seus amigos e suas jornadas de amadurecimento.


O protagonista, Charlie, foi “tirado do armário” contra sua vontade no ano anterior e é, portanto, o único aluno publicamente homossexual do colégio. Apesar de ser vítima de homofobia, ele tem amigos leais que o apoiam.


Já Nick, a estrela do time de rúgbi da escola, está questionando sua sexualidade. A série aborda a questão sem muito “barulho”, já que, majoritariamente, a temática vai além da sexualidade dos personagens: busca mostrar uma perspectiva mais pessoal de cada um perante a própria identidade e a maneira como a assumem para o mundo.


Além do casal protagonista — interpretado por atores de 19 e 18 anos —, a série traz mais representatividade LGBTQIA+ e teve ótimas avaliações de público e crítica.



Black Earth Rising


Créditos de imagem: BBC/ Netflix

Kate Ashby foi resgatada das terríveis consequências do genocídio de Ruanda. 


Ela foi adotada e criada na Grã-Bretanha por Eve Ashby, uma advogada internacional de direitos humanos muito bem-sucedida. 


Kate, que por muito tempo lutou para escapar da sombra de seu passado, agora está voltando a trabalhar como investigadora legal nos mesmos escritórios que a mãe, sob o comando do advogado internacional Michael Ennis. 


Mas o relacionamento de Kate e Eve chega ao limite quando Eve assume o julgamento de um controverso líder de milícia no Tribunal Penal Internacional. O homem acusado, que já lutou para impedir o genocídio na República Democrática do Congo, agora é acusado de cometer crimes contra a humanidade, e as duas podem assumir lados diferentes em uma luta maior que elas.



Brooklyn Nine-Nine


Créditos de imagem: Fox/ NBC (Divulgação)

A história gira em torno do cotidiano do sarcástico detetive Jake Peralta (Andy Samberg) e de seus colegas de trabalho, a competitiva e nerd Amy Santiago (Melissa Fumero), a “durona” Rosa Diaz (Stephanie Beatriz), o excêntrico Charles Boyle (Joe Lo Truglio), o tenente Terry Jeffords (Terry Crews), a divertida e egocêntrica Gina Linetti (Chelsea Peretti) e os inseparáveis Hitchcock e Scully (Dirk Blocker e Joel McKinnon Miller), no 99° distrito do Brooklyn, a partir da entrada de seu novo capitão, Raymond Holt (Andre Braugher), um homem negro e gay.


A diversidade vem pelo elenco e pela contextualização dos personagens. Aqueles que estão vinculados aos cargos mais altos dentro da delegacia são negros, como é o caso do próprio capitão Holt e do tenente Terry Jeffords. E duas das três protagonistas possuem descendência latina: a detetive Rosa Diaz e a sargento Amy Santiago.


O racismo é abordado na série evidencialmente no episódio “Moo Moo”, da 4ª temporada — mas não somente. Na ocasião, Terry é enquadrado por um policial branco, claramente por ser negro, enquanto procurava o brinquedo de sua filha pela própria vizinhança.


A sexualidade também é mostrada de diversas formas, sobretudo através de Rosa, que se entristece por não receber apoio e ser tratada de maneira diferente pelos pais após se assumir bissexual na 5ª temporada.



The Get Down


Créditos de imagem: Netflix (Divulgação)


Ambientada no verão de 1977, a história segue o adolescente tímido e talentoso Ezekiel Figuero (Justice Smith), um garoto afro-latino com talento para poesia que o rende elogios de sua professora de literatura e chacota por parte alguns colegas de escola. Ezekiel é órfão de pai e de mãe, vítimas da violência urbana que é parte indissociável do cotidiano do Bronx. 


Idealista por natureza, o jovem é apaixonado por Mylene Cruz (Herizen F. Guardiola), aspirante à cantora com quem ele, que também é pianista, costuma tocar numa igreja pentencostal liderada pelo pai da jovem, o severo pastor Ramon Cruz (Giancarlo Esposito), que cometeu sua própria cota de pecados no passado.


Várias cenas destacam o hip hop e a disco music. A trama situa o hip hop em um contexto marcado por exclusão social, falta de perspectivas, inquietação cultural, criminalidade e religiosidade.



Orange is the New Black


Uma das personagens em destaque é uma mulher trans: Sophia Burset, interpretada pela brilhante Laverne Cox. Ela enfrenta uma série de dificuldades e mostra os horrores do sistema carcerário estadunidense, principalmente com mulheres trans e negras.


A série é protagonizada pela personagem Piper Chapman (Taylor Schilling), que se envolve romanticamente com Alex Vause (Laura Prepon), um caso do passado que ela reencontra na prisão. 


A história teve sua última temporada em 2019 e é uma das produções da Netflix com melhor avaliação de crítica e fãs.




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