O livro é uma coletânea, escrito por diversas mulheres profissionais de psicologia que falam sobre a maternidade real.
Capítulo 05 - O luto da mulher no puerpério: atravessamentos da mulher que se foi à mulher que se forma
Natália Aguilar, Psicóloga especialista em luto, é autora do 5º capítulo do livro dissertando sobre o luto da mulher que deixa de ser o que era, para se ressignificar sendo agora mãe e responsável por uma vida.
A psicóloga especialista em luto defende que o puerpério da mulher precisa ser mais respeitado, sendo que durante esse período os níveis hormonais estão em constante queda, e que isso é a principal causa do Baby Blues. O Puerpério dura a partir do nascimento do bebê até 45 dias depois, durante esse tempo o corpo da mulher está se “ajustando” à nova realidade, de repente ele deixa de ser “a casa do bebê”, deixa de gerar e de necessitar de todos os hormônios para manter a gestação, assim como ele passa a amamentar e sofrer com o cansaço extremo, privação de sono, dificuldade de alimentação e até de usar o banheiro.
A mulher deixa de ser o alvo de cuidados principais, agora todos transferidos pelo bebê e as pessoas passam a cobrar que ela sinta um “amor incondicional”, uma ligação única com seu filho e que seja grata por ele, isso implica em não sofrer por tudo que ela abriu mão para viver esse momento. Mesmo em gestações planejadas e desejadas, a futura mãe passa por perdas: ela deixa de ser um ser humano individual para gerar outro, deixa de ser uma mulher livre com horários, de poder dormir sem interrupções, ela passa a ter a responsabilidade de manter uma vida que depende 100% dela. Também deixa de ser o centro de si mesma e passa a focar no novo recém chegado que é tão dependente da mãe.
Ela também sofre o luto da perda de expectativas: durante a gestação ela cria uma ilusão de como seria seu bebê, de como seria seu parto e o sentimento de como seria quando conhecesse seu filho. Assim que o bebê nasce e se torna realidade, a expectativa quebra, seja pelo seu filho ser de maneira diferente imaginada, seja pelo parto diferente planejado e talvez pelo sentimento de pertencimento que não aconteceu. Às vezes, o parto foi traumático, a cirurgia foi extremamente cansativa e a queda abrupta dos hormônios dão a essa nova mãe um sentimento de vazio e de cansaço tão grande, que aquele amor vendido por revistas de maternidade e filmes não vem de imediato, precisando ser construído enquanto mãe e filho se conhecem.
Natália também fala sobre o sentimento de culpa que a mulher sente pela falta do tal “instinto materno”, a psicóloga afirma que o instinto é algo que existe em animais não racionais, sendo que eles já nascem com aquele ímpeto, já o ser humano, que é um ser racional que aprende todas as funções, que precisa adquirir o conhecimento, esse instinto não existe. Trata-se de mais um abuso da sociedade com a mulher, cobrando que ela saiba exatamente o que fazer com seu filho, como algo natural, quando deve ser aprendido aos poucos.
Sobre a queda de hormônios durante o puerpério a mulher passa por um turbilhão de sentimentos, algumas doenças psicológicas podem atingir ela durante esse período como baby blues, depressão pós parto (DPP) e psicose puerperal, sendo a última a mais preocupante das três.
Natália explica que o Baby Blues atinge cerca de 85% das mulheres e ele dura todo o puerpério, passando assim que o período de 45 dias acaba. Já a depressão pós parto costuma durar um tempo maior e se assemelha muito a depressão comum, sendo diferenciada apenas porque ela ocorre após o parto. Durante a DPP a mulher tem desejo de maternar, mas não consegue por falta de energia e psicológico abalado, às vezes a condição é confundida com cansaço e a nova mãe se sente culpada por não estar feliz com a chegada do seu filho.
Quando se fala de Psicose Puerperal que se deve manter um alerta maior, sua maior incidência é durante o 1º e o 14º dia do pós parto, atingindo 1 a cada 500 mães, a doença faz com que a realidade e a ilusão se fundam, logo a mulher acaba não reconhecendo a si mesma, nem ao seu bebê. Essa doença é muito grave, já que a mãe pode oferecer perigo para ela mesma, para os familiares e principalmente para o seu bebê. Durante a Psicose puerperal a mulher apresenta cansaço extremo, confusão mental, delírio, alucinações, entre outros sintomas.
No caso de Psicose Puerperal a mulher deve seguir o tratamento adequado para a condição, assim podendo evoluir para DPP, é importante salientar que não se deve afastar o bebê da mãe, já que o contato com ele pode ajudar a curar o transtorno, o tratamento inclui também a família.
Natália fala em seu livro sobre todos os cuidados que uma mulher puerperal deve ter e sobre como ela se torna apagada de repente. Ela deixa de ser a preocupação principal das pessoas, para se tornar a responsável por uma nova pessoa. Além de ser constantemente atacada pela imposição da sociedade de que ela deveria ser feliz e grata por seu filho, invalidando seu sentimento de perda por si mesma, pela mulher que ela já foi e acabou de deixar de ser.
Essa negação do luto pela pessoa que ela foi agrava a maioria das doenças psicológicas que ela possa desenvolver nesse período pós parto e se trata de mais uma violência da sociedade contra a mulher, invalidando seus sentimentos, cansaço e a enchendo de culpa.
Um livro absolutamente necessário, não apenas pelo capítulo da especialista Natália Aguiar, mas também por todo o seu conteúdo rico e importante para as novas mães.
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