De acordo com a OMS, a infertilidade é um problema de saúde global que afeta cerca de 15% da população mundial. Suas consequências são, quase sempre, muito dolorosas.
O papel da mulher em nossa sociedade vem sendo modificado ao longo do tempo. Antes, ela quem era destinada a cuidar da casa, do marido e dos filhos, hoje apropria-se também de um papel de provedora do lar sem, muitas vezes, abandonar as funções citadas anteriormente.
Exercer a maternidade antigamente, era função primordial da mulher e, para se cumprir esse papel e ser "aceita" na sociedade, ela precisava se casar e ter filhos, independentemente da idade.
Atualmente, percebemos que em muitas famílias há um adiamento do projeto parental, justamente pelo lugar ocupado pelas mulheres no mundo profissional. Assim, atualmente tenho lidado com muitas mulheres que, quando decidem engravidar, encontram entraves nesse processo, seja porque o tempo passou e sua fertilidade já não é viável para a concepção ou porque, em meio às tentativas, elas acabam por descobrir algum problema de fertilidade do casal que dificulta e adia ainda mais a realização desse projeto. A mulher, então, acaba por vivenciar um processo de luto por não conseguir concretizar esse projeto de maneira natural.
Entendemos por "luto" toda reação natural e esperada diante de uma perda ou um rompimento de vínculo significativo. Neste caso, podemos dizer que há a perda do projeto idealizado de ter filho; a perda da possibilidade da perpetuação da espécie; a perda da possibilidade de se reconhecer no outro, já que um filho trás a possibilidade do reconhecimento de nossas próprias características, tanto físicas como emocionais; a perda financeira, quando investido em tratamentos de reprodução assistida; a perda da família idealizada, dentre muitas outras perdas que são singulares da vivência de cada um.
Esse processo acaba também por gerar intensos conflitos emocionais na mulher e no casal, e é investida muita energia no processo de ressignificação dessa situação não esperada. Diante disso, a mulher ou o casal que não consegue engravidar pode buscar como alternativa a assistência dos tratamentos de reprodução assistida, que consistem na intervenção médica para auxiliar (não garantir) o processo de gravidez. Eles podem ser os seguintes:
Inseminação Intrauterina: introdução dos espermatozoides diretamente dentro do útero. Ocorre geralmente quando a mulher tem problemas nas trompas.
Fertilização in vitro (FIV): remoção dos óvulos e coleta do sêmen. São fertilizados no laboratório, dando origem a um embrião.
Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI): são utilizadas nos casos de infertilidade masculina e quando já tentado FIV anteriormente ou quando o número de óvulos é muito baixo. Consiste na injeção de espermatozoides diretamente dentro do óvulo.
Doação de Gametas: doação de óvulos ou espermatozoides.
Doação de Embriões: doação de óvulos e espermatozoides já fecundados.
Gestação de Substituição (não legalizada no Brasil): outra mulher gestar um filho para a mulher que não pode (o termo mais conhecido é "barriga de aluguel", termo este não mais utilizado).
Além disso, como último recurso que tende a ser utilizado, a mulher ou o casal podem também recorrer à adoção. Neste caso, faz-se importante um acompanhamento da família para que a transição das expectativas do filho biológico para o filho adotivo possam ocorrer da melhor maneira possível.
Assim, a mulher que não consegue engravidar acaba sendo alvo de muitos sentimentos indesejados, como a culpa, a inveja, a tristeza, o pesar, e necessita de apoio emocional para que possa atravessar seu luto e ressignificar sua condição. Neste processo, é importante considerar que, quando tratamos um processo de infertilidade, isso diz respeito ao casal e não apenas à mulher ou ao homem. Desta forma, como unidade, ambos podem se apoiar e estar juntos nos tratamentos e atravessamento do luto.
Apesar do luto pela infertilidade ser considerado um luto não reconhecido socialmente, o apoio é fundamental para que esse atravessamento não ocorra de maneira tão solitária pela mulher, já que os processos da concepção, gestação, amamentação etc. são inerentes a seu próprio corpo.
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