Fernanda Torres venceu na categoria de melhor atriz de drama no Globo de Ouro, ganhando de atrizes premiadas. A atriz faturou a nomeação 25 anos depois da indicação de sua mãe — Fernanda Montenegro — para o mesmo prêmio.
A premiação
A madrugada de 6 de janeiro de 2025 se tornou um marco para a cultura brasileira, celebrando o talento de Fernanda Torres, vencedora na categoria de Melhor Atriz de Drama pelo filme ‘Ainda Estou Aqui’ (2024). A obra retrata a história de Rubens e Eunice Paiva, que sofreram durante a ditadura militar.
Fernanda já se sentia vencedora pela simples nomeação. No entanto, não acreditava que ganharia o prêmio, uma vez que, para ela, uma intérprete de um filme estrangeiro, falando português, dificilmente teria chances. “Eu não tenho a menor chance aqui, falando português. É uma coisa super americana. Estava relaxada. Aí eu ouvi a Viola [Davis] fazer: ‘F…’. Falei: ‘O quê?!’. Ela completou: ‘Fernanda Torres’. E eu falei: ‘Não estou acreditando, gente!’. Muito lindo! Quando fui andando para o palco, pessoas que admiro tanto estavam aplaudindo”, contou à Globo em entrevista.
Fernanda disputou o Globo de Ouro com atrizes consagradas, e a surpresa com sua vitória foi evidente entre os presentes. As demais indicadas ao prêmio foram:
• Angelina Jolie (‘Maria Callas’)
• Nicole Kidman (‘Babygirl’)
• Tilda Swinton (‘O Quarto ao Lado’)
• Kate Winslet (‘Lee’)
A vitória da brasileira foi ovacionada por telespectadores, amigos, familiares e fãs, que comemoraram esse feito inédito. Selton Mello, seu parceiro de cena, que interpretou Rubens Paiva, virou meme devido à sua reação espontânea e divertida.
Em seu discurso, Fernanda agradeceu à família, amigos, filhos, ao diretor de ‘Ainda Estou Aqui’, Walter Salles, e ao parceiro de cena, Selton Mello. Ela também dedicou o prêmio à sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada ao Globo de Ouro em 1999, mas perdeu para Cate Blanchett, por ‘Elizabeth’.
A vitória ganha ainda mais simbolismo por se tratar de um filme que aborda um período sombrio e cruel da história brasileira, constantemente apagado e negligenciado. A obra denuncia como os culpados nunca enfrentaram as consequências de seus atos. Na semana em que se defende o direito à democracia (8 de janeiro), a premiação reforça a importância da mensagem do filme: preservar a memória e cuidar para que os horrores da ditadura militar nunca mais se repitam.
Ainda Estou Aqui
‘Ainda Estou Aqui’ narra a história da família Paiva. Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello), patriarca da família, era engenheiro civil formado pela Mackenzie e conhecido por seu talento, senso de justiça e amor pelos filhos e pela esposa. Apesar de pertencer a uma família abastada, não permitiu que seus privilégios fossem maiores que seu senso de justiça. Como deputado federal, falou abertamente contra o golpe militar e ajudava familiares de exilados.
Rubens e sua esposa, Eunice Paiva, tiveram cinco filhos. Viviam momentos felizes em sua casa e nas idas à praia. Em 1971, ele foi levado de sua residência por militares, sendo torturado e morto por sua ligação com exilados do regime e seu envolvimento com o guerrilheiro Carlos Lamarca.
Eunice, interpretada brilhantemente por Fernanda Torres, passou por um calvário após a morte do marido. Foi presa e interrogada pelos militares, permanecendo 12 dias no DOI-Codi. Sua filha Eliana também foi mantida sob interrogatório por 24 horas antes de ser liberada.
Eunice passou a buscar respostas sobre o paradeiro de Rubens. Após anos de esperança de que ele voltaria, entendeu que ele havia sido morto e lutou por 25 anos para obter um atestado de óbito. Durante esse tempo, formou-se advogada para garantir os direitos da memória de seu marido.
Sob direção de Walter Salles, o longa transmite uma mistura de esperança frágil e desalento. A cena final, interpretada por Fernanda Montenegro, mostra Eunice, já com amnésia, reconhecendo a foto de Rubens no jornal exibido na televisão.
Fernanda Torres antes do Globo de Ouro
Fernanda Pinheiro Torres nasceu em 15 de setembro de 1965, filha de Fernanda Montenegro e Fernando Torres, ambos artistas renomados. Cresceu cercada pelo teatro, com ensaios realizados em sua casa e constantes mudanças devido às temporadas da companhia de seus pais.
Aos 13 anos, estreou como atriz. Além de atuar, é escritora e cronista, tendo lançado seu primeiro livro aos 40 anos. Entre seus trabalhos marcantes estão o premiado monólogo ‘A Casa dos Budas Ditosos’ e a obra ‘Inocência’.
Na televisão, destacou-se em papéis cômicos, como em ‘Os Normais’ e ‘Entre Tapas e Beijos’, produções que até hoje rendem memes e reconhecimento. Apesar de sua trajetória em comédias, Walter Salles enxergou em Fernanda o potencial ideal para interpretar a carga emocional de Eunice Paiva e a convidou para o projeto.
Fernanda mergulhou no papel ao lado de Selton Mello, e juntos fizeram história. Ela se consagra como a primeira brasileira a conquistar o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama.
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