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O histórico “Homem com H”

  • Foto do escritor: Rafaela Maciel
    Rafaela Maciel
  • 30 de jun.
  • 5 min de leitura

A cinebiografia de Ney Matogrosso estreou com força total na Netflix, chocando e encantando os telespectadores.

 

Ney de Souza Pereira nasceu dia primeiro de agosto de 1941, filho do militar Antônio Matogrosso Pereira e da dona de casa Beita de Souza Pereira. Diferente dos irmãos, Ney sempre enfrentou a truculência de seu pai. Ele conta que era uma criança questionadora e que não gostava de ser constantemente reprimido pelo pai.

Em uma de suas casas da infância, Ney conta que era o responsável pelo abastecimento de água, ele precisava bombear a água 1.800 vezes para encher a caixa. Durante o filme “Homem com H” a cena é usada como passagem de tempo, saindo do garotinho que apanhava do pai por ser questionador e artista, para o adolescente que só queria ter seu espaço e vontades respeitadas.

Quando criança, Ney levou uma surra grande do pai sem derramar uma lágrima, os vizinhos precisaram intervir com medo de que o espancamento terminasse em tragédia. Aos 17 anos, depois de uma grande briga, Ney resolveu sair de casa. Ele se alistou na Aeronáutica. As surras que seu pai lhe dava eram motivadas pela homofobia e o constante medo de ter um filho gay.


Ney fala sobre essa infância repleta de surras e da dificuldade de se relacionar com seu pai em diversas entrevistas.

Primeiros passos



Ney conseguiu se alistar na Aeronáutica em Campo Grande, para a surpresa de seu pai, e conseguiu a transferência para o Rio de Janeiro. Lá, o artista viveu sua primeira paixão platônica, ”Cato”, um soldado muito próximo a ele, que chega a aparecer na cinebiografia.

 

Cato e Ney chegaram a conversar sobre seu amor platônico, mas o forte ambiente militar e o medo de ambos os impedia de algo mais sério do que um roçar de mãos. Ney chega a falar em uma entrevista no Roda Viva que pedia para Deus o matar, em vez de deixa-lo ser gay, tamanho era o medo de se assumir homossexual.


O cantor chega a receber a visita do pai nas instalações da Aeronáutica, que admite que estava errado sobre o filho. No final, Ney abandona a carreira militar e parte para Brasília, ficando hospedado na casa de um primo.

 

Ney trabalhou por um tempo no Hospital de Base de Brasília fazendo lâminas de exames. Durante sua permanência na cidade, o rapaz participou de diversos corais e surpreendeu com seu timbre único de voz.

 

No ano de 1966, Ney mudou de vida novamente, retornando para o Rio de Janeiro e vivendo como um hippie. O golpe militar tinha acontecido há dois anos e a censura estava forte no país, no entanto, Ney vivia como sempre: autêntico e verdadeiro consigo mesmo! Ele sobrevivia de artesanatos que fazia para colegas, estava extremamente pobre, porém, feliz. Seu pai tentou convencê-lo a voltar para casa, mas Ney recusou. Foi durante essa visita que o mesmo começou a se aproximar do pai.


Secos & Molhados



Em 1971, João Ricardo procurava um vocalista para sua banda: Secos & Molhados. Indicado por Luhli, Ney fez um teste para o conjunto e se tornou vocalista da banda. No ano de 1973, o primeiro álbum da banda foi lançado, sendo um sucesso e vendendo mais de 700 mil cópias.

 

Foi durante seu período com a banda que ele adotou o sobrenome de seu pai, como nome artístico “Matogrosso”.

 

Apesar de amigos, a banda tinha muitas divergências, o uso de tintura e roupas animalescas de Ney, incomodava Ricardo, que não gostava das críticas. A tintura foi ideia do cantor para se manter no anonimato, as roupas eram sua expressão artística. Em 1974, mesmo com o sucesso da banda, Ney decidiu seguir carreira solo. Ele se desagradou do novo contrato, que iria rever o valor do cachê pago de cada artista.


Carreira



Em 1975, Ney Matogrosso lançou o albúm “Água do céu”, que foi um fracasso de vendas, seguido por “Bandido” que também não foi muito significativo. O novo estilo de Ney Matogrosso, muito mais sensual e gutural, chocava seu público, a crítica e a classe artística, que dizia que o mesmo era uma vergonha. Esses dois álbuns lhe renderam dívidas e muitos problemas com a ditadura militar.

 

Após esses fracassos, seguindo o conselho de uma amiga, Ney deixou de tentar se provar e apenas criou com seu estilo único, não cedendo para as pressões dos militares. Seus movimentos eróticos continuaram, porém mais suaves e artísticos.

 

Depois dos ajustes, na década de 1970 consolidou Ney como um grande artista, trazendo legiões de fãs aos seus shows. Em 1980 o cantor trabalhou muito, compondo 7 álbuns de estúdio, além de 2 álbuns com canções inéditas ao vivo. Em 1981, o cantor lança um de seus maiores sucessos: Homem com “H”, que também nomeia o filme de sua biografia. Foi um estilo musical novo, do qual Ney teve bastante resistência de aceitar.

 

Em 1990, seu álbum “Um brasileiro” foi bem aceito pelo público e crítica, ele foi lançado com canções de Chico Buarque. Foi durante os anos 1990 que Ney gravou seu outro grande sucesso: “Poema”.

 

Poema foi uma grande colaboração, original de um poema escrito por Cazuza (seu antigo namorado e grande amigo), para sua avó em 1975. Com a morte precoce do cantor, sua mãe, Lucinha, pediu que o músico Frejat transformasse o poema em música, e o mesmo convidou Ney Matogrosso para interpretar a canção. O lançamento aconteceu em 1999.

 

Nos anos 2000, o cantor manteve o ritmo acelerado, lançando mais de 8 álbuns na década e se consolidando como um dos grandes nomes da música brasileira.


Relacionamentos



Ney Matogrosso viveu o amor intensamente. Quando passou a aceitar sua orientação, ele se permitiu viver. Apaixonou-se apenas 3 vezes, mas esteve em relações sexuais e de cumplicidade durante toda a sua vida. Com homens e mulheres.

 

Um de seus grandes amores foi também seu grande amigo, Cazuza. O artista era quase 17 anos mais velho que o jovem cantor, os dois se conheceram na praia e os amigos de Ney chegaram a alertá-lo para que ficasse longe do rapaz.

 

O namoro dois dois foi rápido e intenso, durou apenas 3 meses, mas Ney disse que foi um dos grandes amores de sua vida. Infelizmente, o vício de Cazuza em drogas acabou com a relação. Em uma noite ele chegou na casa do cantor depois de 3 dias de desaparecido, com um traficante. Ambos tiveram uma briga física e romperam a relação romântica. No entanto, o amor nunca morreu 100% e se tornou uma grande cumplicidade e amizade, com Ney produzindo o último show de Cazuza, antes que o mesmo morresse de AIDS, aos 32 anos.

 

Outro amor de Ney Matogrosso que foi tirado dele pela doença foi o Marco Maria, seu grande amor. Ambos estiveram em um relacionamento por 13 anos, o rapaz era médico e muito discreto. Quando descobriu a doença, os dois já não estavam mais envolvidos romanticamente, porém Ney Matogrosso fez a mudança de seu ex-companheiro para sua casa, instalou uma enfermaria e cuidou dele até seus últimos dias. Ele faleceu, com 1,80 m, pesando apenas 22 kg.



Homem com H



Ney Matogrosso foi interpretado por Jesuíta Barbosa, que passou por um longo processo de preparação, com aulas de canto e interpretação e está sendo bastante elogiado pela sua performance.

 

O filme em si recebeu críticas diversas, para muitos foi considerado o filme do ano, feito com muita sensibilidade, de muita verdade. Para outros, as cenas de sexos e erotismo estragam o visual e a apreciação.

 

Homem com H foi feito para incomodar. Ele mostra uma realidade, uma história, de alguém que é um marco da arte brasileira e ainda está vivo para contar suas experiências reais. O sexo, o erotismo, fazem parte da história dessa artista. O lado “bicho” dele é característica vital de sua arte. A pergunta “ Você é homem ou é bicho?” é repetida várias vezes durante o longa e isso define o artista.

Homem com H estreou em junho no streaming da Netflix e já está entre os mais acessados da plataforma. O longa contou com a supervisão do próprio artista, que revelou que se emocionou diversas vezes durante a produção do filme.

 


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