top of page
  • Ricardo Torezani

Luta Contra a Violência à Mulher

Dia 10 de outubro é considerado Dia da Luta Contra a Violência à Mulher. Quantas questões ainda precisam ser revisitadas sobre a violência de gênero?



Atualmente, há grande visibilidade de um fenômeno antigo, o da violência contra a mulher. A ONU, em 1993, definiu que "todo ato de violência dirigido contra a mulher e que cause ou possa causar dano ou sofrimento, de ordem física, sexual ou psicológica, incluindo a ameaça de tais atos, coerção ou privação arbitrária da liberdade, seja na vida pública ou privada" é violência de gênero. A OMS apontou, em 2017, que, apesar das mais variadas ações, as estatísticas mostram que, em todo o mundo, aproximadamente uma em cada três mulheres já sofreu alguma forma de violência ao longo da vida.


A violência é a violação do respeito à integridade física, psicológica e moral da vítima, e leva ao adoecimento mental e à perda da autoestima, principalmente. Há grande interesse por parte de pesquisadores dos mais diversos campos epistêmicos em identificar as causas, fatores e consequências das reações violentas dos homens em relação às mulheres, destacando o ciúme, o sentimento de posse e o machismo como principais fatores causais.


As formas de violência comumente praticadas pelos homens contra suas parceiras são a violência psicológica (insultos, humilhações, difamações, ameaças, destruição de bens pessoais e controle da intimidade), violência econômica (apropriação de dinheiro para seu uso próprio, proibição da parceira trabalhar, contrair dívidas em nome do cônjuge), violência física (tapas, chutes, socos, ferimentos por arma de fogo, mordidas e queimaduras feitas pelo cônjuge) e sexual (estupro, coação, e ato sexual não desejado pela mulher).


A violência psicológica é predominante, seguida de crimes físicos, morais, patrimoniais e, por fim, sexuais. No entanto, a maioria dos pesquisadores concorda com a dificuldade de classificar um ato violento, pois atinge a vítima de várias formas simultaneamente, uma vez que toda violência física também é psicológica, toda violência sexual é física, moral e psicológica, etc. Os agressores, conscientemente, utilizam muitos artifícios para atingir seus objetivos, e um dos alvos preferidos para atingir a mulher é sua família, inclusive os filhos do casal. Causar dor a outros membros da família tem a função de fazer com que a mulher se minimize ou se submeta ainda mais para proteger seus familiares. Nesses casos, o agressor geralmente consegue isolar a mulher de suas relações sociais, única forma de escapar do ciclo violento cujo resultado mais extremo é a morte.


As mulheres violentadas têm uma compreensão vaga dos significados da experiência conjugal. O cotidiano dessas mulheres envolve constantes conflitos de submissão, desprezo, solidão e humilhação, expostos pela violência física, sexual e psicológica, no qual a convivência é recoberta pela dominação, pela falta de cuidado e afeto. Até que o abuso físico ocorra, o homem muitas vezes já usou várias outras ferramentas de opressão desde o início do relacionamento. Normalmente a agressão física é a conclusão de uma série de agressões verbais e comportamentos intimidatórios que tiveram como objetivo diminuir a resistência da mulher e impedi-la de reagir. À medida que se acostuma com o comportamento tóxico, a mulher começa a naturalizar a violência e não consegue identificar o abuso.


O homem violento, em suas relações com a mulher, revela a desigualdade de gênero em que acredita. Nesse sentido, a violência contra a mulher é sinônimo de defesa das relações de gênero patriarcais. A suposta superioridade do gênero masculino sobre o feminino que o machista defende, gera desigualdades, contribui para a aceitação da violência como normal tanto pela sociedade quanto pela própria mulher. A violência de gênero é um poderoso instrumento para afirmar a posse sobre o outro, objetificando a mulher, subjugando sua intimidade e sexualidade.


A violência é uma ferramenta de destruição da identidade da mulher, é a forma mais eficaz de mutilar ou desfigurar a dignidade do feminino.

Portanto, é importante destacar o grave problema da violência masculina contra a mulher: identificá-lo, nomeá-lo, defini-lo e explicá-lo. Nesse processo é fundamental que elas desenvolvam a capacidade de descrever suas experiências e quebrar o silêncio, aqui está o papel principal da psicologia. Quando conceituamos e, sobretudo, compartilhamos experiências e propostas de enfrentamento, também rejeitamos o crime, enquadramos os perpetradores e legitimamos as ações de combate. No entanto, a responsabilização criminal dos culpados deve ser efetiva e a rede de apoio às mulheres deve funcionar de forma eficaz.


*Ricardo Torezani é psicólogo clínico graduado pela FAESA e Mestre em Psicologia Clínica pela ULB (Université libre de Bruxelles).






54 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


bottom of page