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Por que precisamos falar de ‘Adolescência’?

  • Foto do escritor: Hellica Miranda
    Hellica Miranda
  • 22 de mar.
  • 4 min de leitura

Minissérie de 4 episódios da Netflix, ‘Adolescência’ chegou ao top 1 da plataforma e tem dado o que falar



Este artigo contém spoilers da minissérie 'Adolescência'.


Misoginia e patriarcado


Você provavelmente já ouviu os termos “misoginia” e “patriarcado” por aí. Mas, se esse não for o caso, tudo bem, nós explicamos!


Misoginia” é o preconceito, desprezo ou hostilidade direcionados especificamente às mulheres. Essa atitude pode se manifestar por meio de comportamentos, discursos e estruturas sociais que perpetuam a discriminação e a desigualdade de gênero.


Já o “patriarcado” se refere a um sistema social e cultural em que os homens detêm a maior parte do poder e da autoridade em várias esferas da vida, como a política, a economia, a família e as instituições sociais. Nesse contexto, as estruturas e normas sociais tendem a privilegiar as perspectivas e interesses masculinos, muitas vezes resultando na marginalização e desigualdade em relação às mulheres e outras minorias. O conceito é utilizado para analisar como relações de poder históricas influenciam as dinâmicas sociais e perpetuam desigualdades de gênero.


‘Adolescência’ / ‘Adolescence’ (Netflix)

Com isso em mente, seguimos para o play na minissérie britânica ‘Adolescência’, uma produção original da Netflix.


‘Adolescência’


Estrelada pelo jovem ator Owen Cooper, de apenas 15 anos, a produção acompanha os desdobrares do assassinato de uma adolescente de 13 anos, cujo principal suspeito é Jamie Miller (Cooper).


Imagens de câmeras de segurança captam o menino seguindo a vítima pelas ruas durante a noite de seu assassinato e, mais tarde, confrontando-a e a atacando-a com uma faca. A menina foi atingida 7 vezes, e os ferimentos, obviamente, causaram sua precoce morte.


Jamie é culpado. Apesar de negar ao pai, aos policiais e à sua psicóloga designada, Jamie de fato matou sua colega de escola, Katie.


‘Adolescência’ / ‘Adolescence’ (Netflix)

A série se dedica, então, a mostrar os porquês por trás do crime brutal. Partindo para o colégio de Jamie e Katie e para as redes sociais dos dois, chegamos a muitos cenários verossímeis: a misoginia, o machismo e o bullying dominam os ambientes, expondo os jovens a conteúdos cada vez mais tóxicos e agressivos.


De início, os policiais confrontam Jamie com comentários aparentemente amigáveis de Katie em suas postagens no Instagram, sugerindo que os dois fossem amigos antes do crime. No entanto, a realidade é bem diferente: Katie se utilizava da semiótica por trás dos emojis para constranger Jamie publicamente, e chamá-lo de “incel”.


O termo em inglês é uma abreviação de “involuntarily celibate” (celibatário involuntário, na tradução para o português) e se refere a pessoas, geralmente homens, que afirmam não conseguir ter relacionamentos românticos ou sexuais, apesar de desejarem essas conexões. Em algumas comunidades online, essa identidade está associada a sentimentos de frustração, ressentimento e, em casos extremos, discursos misóginos e atitudes violentas.


‘Adolescência’ / ‘Adolescence’ (Netflix)

Mesmo com os comentários de Katie, quando a menina tem nudes vazados na escola, Jamie tenta uma aproximação com ela — na esperança de que a menina, em seu estado mais frágil, lhe dê alguma atenção positiva —, mas é rechaçado pela colega.


É nesse cenário de bullying (e cyberbullying) que Jamie, um garoto normal, criado numa família de classe média, que gostava de jogar no computador e fazer desenhos, se torna um assassino.


Vamos olhar para os meninos, gente. Meninos de dez, doze anos, odiando mulheres, suas amiguinhas de turma, depois sua mãe, suas irmãs… ‘Mulher tem que pilotar fogão, obedecer homem’. Vai lhe forçar a barra, vai lhe bater para submeter. Pode mentir, pode ser desonesto. Começam rindo de memes, de piadinha boba, depois estão rindo de piada de feminicídio, naturalizando a violência (…)

— Daniel Becker (@pediatriaintegralbr)


O pediatra Daniel Becker falou sobre o assunto em um vídeo recente em seu Instagram, em que acrescenta: “Meninos de 10 anos viciados em pornografia, vendo a introdução à sua sexualidade, o início da vida sexual, assistindo vídeos onde mulheres são violentadas, espancadas, estupradas, submetidas, humilhadas, objetificadas (…)


É importante, portanto, adicionarmos um novo termo à nossa coleção do início deste texto: “cultura do estupro”.





Cultura do estupro


Ainda que não esteja de fato exposta na produção de Jack Thorne e Stephen Graham, a cultura do estupro está presente nessa e em diversas outras histórias, sejam elas fictícias ou reais, e trata-se de um conceito sociológico que descreve um ambiente em que a violência sexual é normalizada, minimizada ou até justificada devido a crenças e atitudes prevalentes na sociedade. Essa cultura se manifesta por meio de discursos, comportamentos e políticas que culpabilizam as vítimas, trivializam agressões sexuais e protegem os agressores.


Me perguntei o que está acontecendo em uma sociedade em que esse tipo de coisa está se tornando comum (…) Eu não conseguia entender. Então, quis investigar e tentar lançar luz sobre essa questão em particular.

— Stephen Graham, um dos criadores da série e intérprete de Eddie Miller, pai de Jamie, em entrevista ao The One Show, da BBC.



‘Adolescência’ recebeu aclamação da crítica, alcançando 100% de aprovação no Rotten Tomatoes e uma nota 8,5 no IMDb. Além disso, lidera o Top 10 da Netflix desde sua estreia, evidenciando seu impacto cultural e relevância e destacando-se não apenas pela qualidade técnica e narrativa, mas também por provocar reflexões sobre os desafios enfrentados pelos adolescentes na era digital, tornando-se uma obra relevante para pais, educadores e sociedade em geral.



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