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  • Foto do escritorHellica Miranda

Até que ponto nossos corpos são realmente nossos?

Por que o corpo feminino ainda é alvo de tantas regras ditadas pela sociedade? Yasmin Brunet é exemplo do problema.



A jornalista proibida de envelhecer


Conhecida no Canadá há décadas, Lisa LaFlamme foi demitida em 2022 pela CTV, a maior rede de televisão privada do país, após o que a empresa descreveu como uma "decisão comercial" de levar o programa "em uma direção diferente". Embora o noticiário nacional na CTV apresentado por Lisa tenha sido um dos mais assistidos e ela tenha ganhado um prêmio nacional de melhor âncora de notícias apenas alguns meses antes, não houve sequer oportunidade para despedida.


A ausência de Lisa à frente do jornal causou debates entre o público, sobretudo depois que o jornal The Globe and Mail publicou sobre a possibilidade de uma decisão tomada pela jornalista durante o auge da pandemia ter sido a causa da demissão: quando os salões de beleza fecharam, Lisa LaFlamme parou de tingir seus cabelos, deixando-os crescer naturalmente grisalhos.


Lisa LaFlamme | Créditos de imagem: Ian Willms

A empresa proprietária da rede de TV, Bell Media, negou que "idade, gênero e cabelos grisalhos" tivessem influenciado a decisão. Para substituir Lisa na bancada, foi escolhido um jornalista de 39 anos.


A decisão de Lisa, de acordo com o The Globe and Mail, fez com que um dos executivos da rede de TV em que trabalhava perguntasse quem havia aprovado que ela deixasse os cabelos grisalhos.


Lisa LaFlamme passou mais de 10 anos como a principal âncora da CTV, uma conquista longa e árdua. Viajou a trabalho para o Afeganistão e para Bagdá, mas foi sua aparência que lhe causou mais comentários, mesmo antes de assumir os cabelos grisalhos.


A atriz proibida de emagrecer



A atriz Rebel Wilson, conhecida por seu papel como Fat Amy na franquia de comédia 'A Escolha Perfeita', revelou durante uma participação no podcast "Call Her Daddy" que seu contrato a proibia de perder peso. Essa restrição contratual a levou a adiar seus planos de emagrecimento, embora ela tenha expressado o desejo de se tornar mais saudável. A revelação de Wilson sobre essa restrição levantou discussões sobre as pressões e expectativas enfrentadas pelas atrizes em relação à aparência e ao peso em Hollywood.


"E eu fui estereotipada ao interpretar aquela amiga gorda e engraçada, o que é muito difícil porque eu amo esses papéis", declarou Rebel. "Eu amo fazer os papéis, amo essas personagens. Mas então eu queria fazer mais coisas, mas senti que, ao ser a garota grande, você é apenas mais rotulada".


A atriz declarou que amava interpretar personagens do tipo — e que ganhou milhões de dólares com elas —, mas que percebeu que, apesar de não estar sendo diretamente negativo para si mesma, era muito estereotipada e que, ao se transformar fisicamente, poderia ser vista de forma diferente e ser escalada para novos projetos e desafios.


Em abril do ano passado, Rebel Wilson falou sobre sua dieta e mudança de vida após o fim da franquia e um emagrecimento de 40 quilos.



Em 2020, Rebel começou o que chamou de "ano da saúde", aliando exercícios físicos e alimentação saudável.


A transformação da atriz pode ser vista em 'De Volta ao Baile' (2022), da Netflix, que desmente a teoria de muitos de que, ao perder peso, Wilson "perderia a graça".


A quem pertencem os corpos femininos?


A crença de que a sociedade pode ditar regras sobre a aparência feminina se deve a fatores históricos, culturais e sociais. Ao longo do tempo, normas de beleza foram estabelecidas e perpetuadas por influências externas como a mídia, publicidade, tradições culturais e expectativas sociais.


Essas normas frequentemente reforçam estereótipos de gênero e impõem padrões de beleza irreais às mulheres. Infelizmente, isso resulta em pressões sociais e pessoais para se adequar a esses padrões, levando a problemas de autoestima, ansiedade e até mesmo danos à saúde física e mental.


No entanto, é importante lembrar que essas normas são construções sociais e não representam uma verdade universal. As ideias de beleza e aparência variam amplamente em diferentes culturas e ao longo do tempo. Cada pessoa deve ter o direito de expressar sua individualidade e ter autonomia sobre seu próprio corpo, independentemente das expectativas sociais.


À medida que a conscientização sobre a diversidade e a igualdade de gênero aumenta, a sociedade gradualmente questiona e desafia esses padrões estabelecidos, promovendo a aceitação da diversidade de corpos e valorizando a autonomia das mulheres em relação à sua própria aparência.

Um caso mais recente, digno de nota, é da modelo Yasmin Brunet, participante do Big Brother Brasil 24. Durante sua participação no programa, a modelo, que já revelou sofrer de compulsão alimentar, transtorno sério, passou a ser chamada de "Yasmin Comer" por um de seus colegas de confinamento, que também "sugeriu" que ela fosse mais à academia e comesse menos.


A psicóloga Melanie Kurokawa, da equipe De Mulher Para o Mundo, traz uma reflexão sofre o assunto:


Características físicas femininas foram estimuladas (e ainda são) a serem extremamente delicadas e sutis, se aproximando até mesmo do público infantil. Sem estria, sem marcas, sem pelo. As mulheres que escolhem não se manterem nesse cruel padrão são, em sua maioria, julgadas. Vistas como sujas e afrontosas. Realmente, escolher o caminho da liberdade, nesse quesito, é desafiador.


Tendo isso, estranho mesmo seria a sociedade "aceitar" uma mulher com traços mais maduros (ou qualquer outro que saia do padrão esperado). Seja pelo aspecto de nossas peles, cabelos, corpos, vestimentas e inúmeros outros fatores que são assunto corriqueiros em manchetes e/ou qualquer outra vertente da mídia.


Comumente somos expostas a "problemas" e "soluções" inalcançáveis ou até mesmo inexistentes. Infinitos produtos para cabelos brancos demais, com volume demais, oleosos ou secos demais. Cremes firmadores e anti estria, séruns com +10 funcionalidades, rotinas de skin care gigantescas e tudo isso sem nem falar em cirurgias plásticas.

Fomos ensinadas que todos podem opinar e decidir sobre corpos femininos, menos nós mesmas.

Quando é que nossos corpos poderão existir em paz? Quando é que vamos poder simplesmente SER?

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