Elis Regina, a pimentinha do Brasil
- De Mulher Para o Mundo
- 26 de mar.
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Elis Regina, conhecida como "pimentinha" foi considerada a melhor cantora brasileira por décadas.

Primeiros anos
Elis Regina de Carvalho Costa teve uma infância humilde. Nascida em Porto Alegre, município de Rio Grande do Sul, filha do operário Romeu Costas e de Ercy Carvalho, Elis sempre foi considerada uma criança tímida. A mãe também preferia que a mesma não se envolvesse com as crianças da vizinhança, então ela cresceu brincando sozinha e, em sua infância, sua brincadeira favorita era a de cantora famosa.
Elis conta em inúmeras entrevistas que sua diversão infantil era organizar seus ursinhos de pelúcia e cantar para todos eles por horas. Essa vocação seguiu Elis para a adolescência e, depois de um pedido especial feito por sua avó, a mãe permitiu que a menina de 11 anos cantasse no programa Clube Guri, apresentado na Rádio Farroupilha.
Elis fez tanto sucesso com sua voz que, aos 15 anos, foi eleita a melhor cantora da rádio. No entanto, o desejo de seus pais era que a mesma se formasse professora. A cantora mais tarde chegou a cursar, mas desistiu. Em entrevistas, Elis conta que não tinha nenhuma vocação e que provavelmente seria um desastre na profissão.
Aos 16 anos, Elis Regina lançou seu primeiro disco, mas foi com 20 anos que ela começou a alcançar a fama. Em 1965, ficou conhecida no Brasil inteiro quando foi campeã na categoria de melhor intérprete no festival de música brasileira. Ainda no mesmo ano, Elis se apresenta no programa O fino da Bossa, com Jair Rodrigues.
Carreira, polêmicas e shows

Elis ganhou o apelido de pimentinha por conta de sua baixa estatura, mas humor explosivo. Ela era conhecida por ter picos de brigas e logo depois conseguir conversar normalmente com a mesma pessoa.
No mesmo período em que estava no programa O fino da Bossa, a cantora começou a se incomodar com o movimento da Jovem Guarda, já que o programa começou a afetar a audiência de seu próprio.
Além disso, Elis colecionou rivalidades femininas com nomes como Alcione, Alaíde Costa, Nana Caime, Claudya e Nara Leão. Com Doris Monteiro a confusão ficou bem conhecida: a colega de profissão dizia que Elis Regina era extremamente esnobe, sendo que até mesmo uma conversa bem ácida entre as duas foi manchete de vários tabloides da época, em que Elis perguntava como a “grande estrela” gostaria de ser apresentada no programa, e Doris respondia “Você fala Doris Monteiro e o Brasil inteiro conhece”.
A cantora era bastante insegura e não gostava de dividir sua atenção no palco com mais nenhum artista, chegando a implicar até mesmo com seu colega apresentador Jair Rodrigues. A artista fala mais sobre isso em sua última entrevista:
Apesar da antipatia com alguns colegas, Elis Regina colaborou com diversos artistas, como Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Tom Jobim, Milton Nascimento, Gilberto Gil e muitos outros.
Entre suas músicas mais famosas estão: Águas de março (1972), Madalena (1971), Upa, neguinho (1966), Fascinação (1978) e Como nossos pais (1976).
No final da década de 1960, Elis Regina começou a fazer carreira no exterior, principalmente na Europa, sendo ovacionada em todas as suas apresentações. Em 1968, Elis precisou retornar ao palco Olympia de Paris 6 vezes, por conta do clamor do público. Em 1975, a cantora realizou quase 300 apresentações com o espetáculo Falso Brilhante.
Elis Regina e a ditadura militar
O auge da carreira de Elis Regina foi durante a ditadura militar. A cantora era uma forte opositora ao regime e denunciava abertamente os crimes cometidos. Ela se pronunciava na televisão, em entrevistas e em sua música.
A cantora virou símbolo de resistência, sua música era propagada entre os que resistiram à repressão do regime militar. Foi durante o período militar que nasceu uma forte amizade entre Elis Regina e Rita Lee.
A cantora de MPB detestava rock e guitarras, falava que o instrumento só fazia barulho, não música. E mesmo já encontrando Rita Lee em alguns festivais, nunca simpatizou com ela. Porém, em 1976, Rita foi presa, acusada de porte ilegal de drogas, Elis Regina ficou indignada e foi a primeira e única pessoa a visitar a cantora de 28 anos. Elis exigiu que a parceira de profissão fosse solta e a partir dali um forte laço entre as duas se formou.
Certa vez chegou a dizer que o Brasil era governado por “gorilas” e apenas sua popularidade a manteve fora da prisão. Ainda assim, foi obrigada a cantar o hino nacional em uma apresentação em um estádio, o que trouxe indignação à oposição.
Romances

Elis namorou, em 1964, Edu Lobo. Foi uma paixão rápida, logo substituída por Solano Ribeiro, que era produtor musical. O relacionamento foi marcado por conflito de agendas, ficando quase a mercê de rápidos encontros em aeroportos. No entanto, chegaram a firmar compromisso, se tornando noivos. O noivado acabou em meio às polêmicas.
Em 1967, casou-se com seu primeiro marido, Ronaldo Bôscoli, com quem teve seu primeiro filho: João Marcelo Bôscoli. No entanto, o relacionamento durou até 1972, o casal era conhecido por protagonizarem brigas terríveis e em público.
Em 1973, Elis estava em um novo relacionamento, dessa vez com o pianista César Camargo Mariano. Juntos tiveram dois filhos: Pedro Camargo Mariano e Maria Rita. O casamento durou até 1981.
Seu último relacionamento foi com Samuel MacDowell com quem havia começado a namorar recentemente.
Drogas e morte precoce
Elis Regina nunca escondeu que fazia uso de drogas e bebidas alcoólicas, sendo essas as principais responsáveis pelas suas variações de humor. A cantora geralmente ingeria as duas substância juntas, com o álcool atrapalhando a mesma de saber a quantidade certa para interromper o uso.
Elis foi encontrada morta na manhã de 19 de janeiro de 1982, aos 36 anos, nos anos finais da ditadura militar que ela abominava, quem descobriu seu corpo foi seu namorado, que estava preocupado com seu sumiço.
Sua morte ocorreu devido ao uso desenfreado de substâncias como cocaína e álcool. No entanto, amigos próximos afirmam se tratar de um descuido, que a cantora jamais teria cometido um suicidio, ela amava a vida.
Seu velório foi realizado no teatro Bandeirantes, sobre grande comoção popular. Seu corpo foi acompanhado até o cemitério Morumbi por quase 15 mil pessoas.
Seu amigo íntimo e produtor musical Nelson Motta discordava do laudo médico, informando que a cantora não se drogava dessa maneira, que sua morte deveria ter sido por um ataque cardiaco e que ele não acreditava que ela teria se drogado o suficiente para causar sua morte.
O caso foi investigado pela policia, porém foi arquivado pelo promotor em apenas 6 meses.
Prêmios e sucessos

Primeiro Festival Nacional da Música Popular Brasileira, em 1965, com a música "Arrastão", de Vinícius de Moraes e Edu Lobo.
Prêmio Berimbau de Ouro, em 1965, na categoria melhor intérprete.
Troféu Roquette Pinto, em 1965, de melhor cantora do ano
Prêmio como Melhor Intérprete da música "O Cantador" do Festival da MPB de 1967
Troféu imprensa: 1966, 1967, 1968, 1969, 1971;
Troféu APCA: 1973;
A cantora recebeu diversas homenagens, entre elas uma estátua de bronze em Porto Alegre, sua cidade natal.

Na cultura popular
Elis foi interpretada, em 2016, pela atriz Andréia Horta na cinebiografia ‘Elis’, de Hugo Prata.
O filme, que conta a história da cantora, está disponível no catálogo da Netflix.
‘Elis & Tom: Só tinha de ser com você’, de 2023, foi pelo produtor Roberto de Oliveira durante as gravações do álbum lançado em 1974, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O documentário reúne uma série de materiais inéditos dos bastidores. Essas imagens, preservadas ao longo das décadas, revelam os desafios e reviravoltas enfrentados durante a produção do disco, que por pouco não foi interrompida.
A produção está disponível no catálogo do Globoplay.
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