Considerada Rainha do Soul, Aretha Franklin chegou a ter sua voz considerada "um recurso natural"
A Rainha do Soul
Nossa Mulher de Destaque desta quarta-feira é Aretha Louise Franklin, nascida em 25 de março de 1942 e considerada pela revista Rolling Stone “a maior cantora de todos os tempos” e “a nona maior artista da música de todos os tempos”.
Dona do hit "(You Make Me Feel Like) A Natural Woman", foi homenageada com a Medalha Presidencial da Liberdade, maior condecoração para um civil estadunidense, além de ser a primeira artista feminina no Hall da Fama do Rock and Roll.
Recordista de vendas, seus discos já venderam mais de 75 milhões de unidades no mundo todo, com músicas que transitavam entre os estilos R&B, soul, gospel, jazz e pop.
Aretha faleceu em 16 de agosto de 2018, aos 76 anos, em decorrência de um câncer que já tratava há anos.
Como homenagem póstuma, em 2019, tornou-se a primeira mulher a receber sozinha o Prêmio Pulitzer na categoria Citação Especial, graças à sua contribuição para a música e cultura americana por mais de 50 anos.
Carreira apaixonada, brilhante e empoderada
Aos dez anos de idade, Aretha começou a cantar na igreja de seu pai, bastante conhecido em Detroit, onde era chamado de “a voz de um milhão de dólares” e recebia, com frequência “celebridades” em sua casa. Nomes do gospel como Mahalia Jackson, Dinah Washington, James Cleverland, e nomes do soul como Sam Cooke e Jackie Wilson. Essas visitas, é claro, não passaram em branco como influência para a pequena Aretha, e o apoio do pai foi essencial para que sua carreira começasse.
Seu primeiro disco, 'Songs of Faith' ("Canções de fé", em tradução livre), foi lançado quando tinha apenas 14 anos, E não demorou muito para que sua voz fosse reconhecida e notada por grandes gravadoras, como a Motown, a mais importante lançadora de artistas negros desde seu surgimento até o surgimento do hip hop. No entanto, Aretha optou pelo que se tornaria uma longa parceria com a Columbia Records.
Dos 9 álbuns lançados sobre a mentoria de John Hammond, produtor envolvido no sucesso de artistas como Billie Holliday, nenhum fez sucesso. Hammond, que esperava encontrar em Aretha uma nova Billie, ignorou a aptidão da jovem para o R&B e soul, colocando-a no universo do jazz e do blues. Ainda assim algumas músicas emplacaram nos topos das paradas.
A parceria com a Columbia terminou em 1967, quando Aretha Franklin assinou com a Atlantic Records. Lá, gravou e lançou hits como 'I Never Loved a Man the Way I Love You', 'Do Right Woman, Do Right Man' e o futuro hino dos direitos civis, 'Respect'.
Somente na década de 1960, Aretha lançou 17 álbuns, dos quais 3 receberam Disco de Ouro.
Na década de 1970, foram 11 discos de estúdio, atingindo o Top 10 da lista Hot 100 da Billboard com 5 singles.
Em 1980, assinou com a gravadora Arista Records e, no mesmo ano, realizou uma performance no Royal Albert Hall na presença da Rainha Elizabeth II. Aretha também foi artista convidada em um musical de comédia, "The Blues Brothers".
Seu primeiro álbum de Franklin pela Arista, chamado "Aretha", foi lançado ainda em 1980 e emplacou duas canções entre "Singles de R&B" nos Estados Unidos: 'United Together' e 'I Can't Turn You Loose'. Com 'Jump to It', retornou à disputa pelas primeiras colocações nas paradas, com a faixa figurando entre os "40 Singles Pop" durante seis anos.
Em 1985, desejando um "som mais jovem" em sua música, Aretha lançou um estilo diferente em "Who's Zoomin' Who", que se tornou o seu primeiro álbum a receber certificação de platina ao ultrapassar a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Em 1987, lançou seu terceiro álbum gospel, "One Lord, One Faith, One Baptism", gravado na Igreja Nova Betel, que costumava ser liderada por seu pai.
Em 1998, Franklin retornou ao Top 40 com o lançamento de 'A Rose Is Still a Rose', produzido pela também cantora Lauryn Hill. A faixa viria a tornar-se o título do álbum lançado depois. No mesmo ano, Aretha chamou atenção mundialmente por sua performance de 'Nessun dorma' na cerimônia do Grammy Awards, quando substituiu o tenor italiano Luciano Pavarotti.
Últimos anos e despedida
Em 2004, Franklin anunciou sua saída da Arista Records após 20 anos de contrato. Em 2007, para concluir suas determinações profissionais com a gravadora, lançou uma compilação de duetos da sua carreira chamada "Jewels in the Crown: All-Star Duets with the Queen", que alcançou sucesso comercial e de crítica. No ano seguinte, lançou o álbum natalino "This Christmas, Aretha" pela DMI Records.
Em 2010, começou a tratar um câncer, mas, de tempos em tempos, ainda tomando os palcos. Aretha faleceu devido a um câncer no pâncreas, em 16 de agosto de 2018, aos 76 anos.
Polêmica
Aretha raramente falava de sua primeira gravidez, aos 12 anos. Nem da segunda, aos 14. Ambas teriam ocorrido por decisão de seu pai e, sobre isso, sempre circularam na mídia rumores de abuso e incesto, questões que a artista também não comentava.
Aretha casou-se em 1961, com o empresário, agente e compositor Ted White, com quem teve mais dois filhos.
Para David Ritz, biógrafo da cantora, o pai era agressivo e controlador e, na tentativa de fugir dessa ditadura, Aretha se casou com Ted, a quem o pai odiava. A disputa entre os dois incluía o controle sobre a cantora, que nunca se mostrou abatida. “Para Aretha, a dor era a parte mais privada de uma pessoa. Preferia viver em relatos de autoengano diante dos outros a reconhecer essa dor. Muitas de suas histórias sobre sua vida eram pura fantasia”, declarou o autor.
Os dois se divorciaram cerca de 8 anos depois e, quase 10 anos depois, Aretha se casou com o ator Glynn Turman, relacionamento que terminou em divórcio em 1984.
O parceiro de longa data da cantora foi Willie Wilkerson, falecido em decorrência do coronavírus em 2020.
Amazing Grace
Depois de quase cinco décadas, uma produção acompanhando a gravação do disco gospel 'Amazing Grace' foi lançada a partir dos trabalhos do cineasta Sydney Pollack.
Na obra, Aretha Franklin aparece durante as gravações do álbum na Igreja Batista Missionária New Temple. Em sua companhia, os Stones Mick Jagger e Charlie Watts fazem presença ilustre.
Disponível no catálogo Telecine, o documentário quase não foi lançado: devido a erros na edição, dezenas de horas de gravação de áudio e imagem foram dessincronizadas, e a Warner Bros., responsável pelo projeto, acabou por engavetá-lo.
No entanto, em 2007, pouco antes de falecer em decorrência de um câncer, o diretor Sydney Pollack entregou o material ao diretor Alan Elliott, produtor e compositor que, utilizando-se do material de outro gravador, ressincronizou o conteúdo, permitindo que o documentário fosse lançado, em 2018.
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